Meu País Nacional Online
Após anos fora do Brasil, separado da família pela distância e principalmente pelo afeto, Marcos (Rodrigo Santoro) é obrigado a retornar ao país quando seu pai, Armando (Paulo José), sofre um derrame. Executivo, casado e bem-sucedido na Europa, Marcos reencontra Tiago (Cauã Reymond), seu irmão mais novo. Ao contrário do primogênito, Tiago não tem vocação para os negócios, vivendo uma vida de playboy, filho de pai rico. Para aumentar o conflito entre os irmãos, eles descobrem que possuem uma meia-irmã, Manuela (Débora Falabella), vítima de deficiência intelectual. Uma filha que Armando sempre manteve escondida de toda a família.
O diretor e roteirista estreante em longas-metragens André Ristum conta aqui uma história que não é a sua biografia, mas tem muito de seu DNA. Nascido em Roma, criado em Londres e paulistano por opção, Ristum faz aqui um filme europeu-brasileiro, com uma intensidade como pouco se vê no cinema nacional. Fã confesso do diretor Nanni Moretti, ele emprega os laços familiares na construção de sua história, com arcos claros para seus personagens, sem ser mais didático do que deveria na apresentação dos conflitos de cada um.
Também no ponto de vista estético, é fácil identificar a busca por algo diferente do que se vê no país das novelas. Os brancos mais estourados, as cores lavadas e os enquadramentos mais estudados fazem diferença na apresentação do drama de Marcos, quando descobre que seu irmão, Tiago (Cauã Reymond), se tornou um playboyzinho egoísta, que não cai na real mesmo devendo os fundos por conta de seu vício nos jogos. Para piorar, desmorona na sua frente a notícida de que eles têm uma meia-irmã (Debora Falabella) de quem nunca tinham ouvido falar e vai mudar até mesmo a forma como os dois se relacionam.
Sem cair na obviedade, a história vai utilizando os detalhes para montar o quebra-cabeças de sua trama. Ao ver Marcos chamando seu pai pelo nome, Armando (Paulo José), percebe-se, por exemplo, a relação conflituosa entre os dois. E para completar as lacunas, entra a personagem de Debora, que com sua ingenuidade própria dá a versão alheia de julgamentos, repetindo apenas o que ouviu dos outros.
Se o agiota para quem Tiago deve dinheiro cai na caricatura do mafioso italiano e a sua parceira de mesa de pôquer pouco acrescenta, a balança se nivela com a presença de Anita Caprioli. A atriz italiana, além de linda, forma um ótimo casal com Santoro. A dinâmica entre os dois, quase sempre falando na língua dela, vai além da tela e deve acertar quem está na plateia, principalmente na sua cena final, que está longe de ser o fim da história. Trata-se de um desfecho que deixa tudo aberto, mas muito bem encaminhado, tal qual a carreira de Ristum.
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